12 de dez. de 2008

Capitulo 61: Perigo na noite escura

Naquela mesma noite de sexta-feira, o céu em Franklin estava entre nuvens. Não estava muito tarde, ainda eram 9:00, mas muitas casas já estavam com as luzes apagadas, e outras se preparavam para isso. Zac e seus amigos adoravam andar por aquele lado da cidade, pois tudo sempre era mais quieto, o que dava a eles mais vontade de bagunçar. Dois grandes amigos seus estavam o acompanhando naquele momento: John e Blayke, ambos da mesma idade, e até uns anos mais velhos do que Zac, por mais que isso não parecesse. Zac sempre teve essa deixa de aparentar ser mais velho do que sua idade, coisa que nunca o incomodou, pelo contrário, só o ajudou. Na escola, ele sempre mentia a idade, o que parecia verossímil, e os outros garotos não ousavam em tocar um dedo nele, até os mais velhos.
Os três naquele momento planejavam mais uma de suas pichações, desta vez, e um muro próximo a um terreno baldio na Fair Street, próximo a 5ª Avenida.
– O que você vai pichar, Zac? – Perguntou Blayke, enquanto retirada da mochila os spray de tintas que ele tinha roubado do estoque de seu pai.
– Acho que... não sei. O nome da banda, que tal? Paramore, bem ali. Respondeu ele, pensando para ver se colocaria mais alguma coisa.
Blayke fez uma cara de deboche.
– E você sabe escrever por acaso? – Disse ele, soltando aquela risadinha macabra que lhe era típica.
– É claro que eu sei, seu babaca! – Exclamou Zac, e empurrou-o. – Só não sei se depois do “r” coloca um “e” ou um “i”.
Seu amigo riu mais uma vez.
– Cara, eu acho que você devia estudar mais, pelo menos terminar o colegial. Tua fama de burro já correu a escola toda, fala sério. Já faz uns tantos anos que você ta estacionado na mesma série.
– Você tá parecendo o meu irmão mais velho. Vê se cala essa boca! Eu não preciso estudar muito pra conseguir o que eu quero, e o que eu quero é ser um baterista famoso. Vocês vão ver, caras, qualquer dia desses eu vou estar na capa das revistas, ganhando uma grana preta, dando entrevistas, autógrafos, e viajando o mundo todo...
– Eu acredito em você, cara. Boto, fé, boto fé... – disse John, batendo o punho cerrado no peito esquerdo.
– Eu já acho que você deveria colocar os pés no chão. – Retrucou Blayke. – Tudo bem que é isso que você quer. Corra atrás, beleza. Mas também, tu tem que encarar as possibilidades. Vai que isso não dê certo... sem estudo, cara, o máximo que você vai conseguir é um emprego como zelador de alguma escola!... Ei, Zac! Você tá gastando toda a tinha, pô! Já errou ali, ó. Colocou um “t” no lugar do “r”!
– Ah, toma essa porcaria, também não quero mais! – Berrou Zac, e jogou as latas de tinta quase vazias no chão.
Enquanto Blayke apanhava tudo e continuava seu discurso moralista, eis que surgem três vultos vindo do final da rua. Os três vinham correndo e traziam consigo uma grande bolsa preta. Logo que se aproximaram, Zac e seus amigos reconheceram logo de quem se tratava: os três marginais mais fracotes da cidade, Thomas Black e seus dois irmãos. Thomas, por acaso, seria o garoto que supostamente apunhalou Zac em uma briga que aconteceu há muitos, muitos meses atrás.
– Olá, Zac. Vejo que já se recuperou do – pigarreou – ferimento. – Disse ele, sentando junto com seus irmãos em um meio-fio próximo de onde Zac estava.
Blayke e John seguraram no ombro do amigo.
– Zac não vale a pena, cara. Vamos embora. – Disse John.
– Eu não tenho medo desse idiota. – Disse ele ao seu amigo, e depois virou-se para onde Thomas estava. – Sim, já estou bem melhor. E você, vê se cai fora que eu não tô com paciência de ficar olhando pra essa sua cara feia hoje.
– Eu ia dizer o mesmo a você. – Bronqueou Thomas, já se levantando e caminhando para perto de Zac. – Sabe o que andam dizendo por aí?
– Cara, nem inventa de caçar briga, – retrucou Zac, começando a ficar irritado. – você sabe, que eu bato em você com uma mão nas costas.
Thomas nem se importou, e continuou com sua conversa fiada.
– Uns amigos meus me contaram que sua mãe faz programa agora, sabia? Tem como marcar um horário com ela depois lá na minha casa?
Em um segundo, Zac sentiu como se todo o sangue do seu corpo tivesse subido pra sua cabeça. Thomas continuou rindo e fazendo xacocas contra ele, de má vontade, pois os punhos de Zac vieram quase flamejando e esbofetearam-no até que seu rosto ficou quase todo ensangüentado. Nem um dos irmãos de Thomas, ou mesmo John e Blayke conseguiram fazer com que ele parasse de bater. Durante uma pausa que Zac fez para dar impulso ao soco, Thomas conseguiu empurrá-lo e derrubá-lo no chão, perto de onde ele já havia caído no primeiro golpe, e para a infelicidade de Zac, ele havia sacado um objeto metálico de debaixo da camisa.
– Thomas, guarda essa arma! – Gritou um de seus irmãos, mas Thomas não deu ouvidos e o primeiro tiro saiu.
Todas as luzes que até então estavam apagadas no imenso corredor de ruas acenderam de repente, e alguns gritos vindos de uma casa vizinha ecoaram largamente através da noite escura. Zac continuou estirado no chão, enquanto Thomas fugia, até sumir na mesma escuridão por onde tinha chegado.
– Zac! Zac! Oh, meu Deus! Não deixe que ele tenha morrido! Por favor! – Gritou Blayke de joelhos com as mãos erguidas para o alto.
– Deixe de drama! Eu estou bem. – Respondeu Zac, já se levantando. – O imbecil errou o tiro.
Brayke ficou olhando para ele com os olhos arregalados, ainda surpreso com o que tinha acontecido.
– Galera, eu acho melhor a gente correr. – Apressou-se John. – Daqui a pouco essa rua vai estar repleta de gente querendo saber o que foi esse barulho, e eu não quero estar aqui quando a policia chegar.
Difícil foi conseguir arrastar Blayke, que ficara atônito com toda aquela agitação. Nunca ele tinha visto uma pistola, a não ser nos filmes, e ainda mais sendo disparada contra seu melhor amigo.
O importante é que quando as pessoas começaram a chegar, os três já estavam a caminho de suas casas, e esperavam que nada pior acontecesse... nada pior do que o que já havia acontecido.

10 de dez. de 2008

Capitulo 60: Katrina e paixonites

Ao chegarem de volta a sua cidade Natal, despacharam o equipamento e acertaram alguns gastos. Em seguida cada integrante da Paramore voltou para sua casa. Hayley ganhou uma carona do pai de Jeremy, que a trouxe até a porta de casa. Ela agradeceu, despediu-se e entrou. Sua mala estava pesadíssima e como estava muito cansada, não conseguiria, com certeza, subir com aquela mala às escadas até o seu quarto. Então colocou a mala sobre o sofá e sentou-se ao lado dela com os cotovelos apoiados nos joelhos. De longe ela ouviu o barulho do chuveiro. Sua mãe devia estar tomando banho, pois o outro novo habitante da casa, seu namorado, ou esposo, ou conjugue, sei lá, cruzou a sala, afrouxando a gravata. Ao passar por Hayley, ele deu um leve sorriso que ela retribuiu, mais por educação. Sua mãe apareceu pouco tempo depois enrolada em uma toalha branca.
– Que bom, querida, que você chegou. Eu senti tanto a sua falta... – “apesar de não demonstrar isso no tom de voz”, pensou Hayley, quando sua mãe falou isso. – Mas como eu pensei que você só viria mais tarde, não preparei um jantar. Então, se você estiver com fome pode pegar um dinheiro na minha bolsa e compre alguma coisa pra você.
Hayley ficou chocada. Sua mãe nunca em seu juízo perfeito deixaria de se arriscar em um fogão para deixar que ela comesse em um fast-food. Era totalmente contra que a filha comesse coisas gordurosas. Não que Hayley não gostasse, mas a atitude dela foi tão estranha que era como se ela quisesse que sua filha saísse de casa. Mas também, Hayley não fez objeções, pois estava muito faminta pra pensar em qualquer argumento para contrapô-la. Então, pegou o dinheiro e saiu.
No caminho, de súbito, ela lembrou-se de sua amiga Katrina e pensou em ir até a casa dela para convidá-la a ir também. Mas nem precisou. Katrina já vinha na sua direção de longe e correu até onde Hayley estava.
– Menina! Há quanto tempo! – Gritou Hayley ao ver sua amiga, e as duas se abraçaram.
– Também não exagera. Foram apenas duas semanas. – Reclamou Katrina, e depois fez seu famoso gesto com uma das mãos.
– E você está indo pra onde? – Perguntou Hayley
– Eu ia na sua casa. – Respondeu sua amiga.
– Mentira!
– Sério! – exclamou Katrina. – Mas não pense que adivinhei que você tinha chegado. Eu apenas deduzi, ao ver um de seus amigos da banda andando perto da minha casa. Acho que é o menino que toca bateria.
– Zac. Ai, ai, esse aí não perde tempo. Mal chegou e já sai por aí... Sim! – Exclamou Hayley, de súbito. – Mas você não pode ir para minha casa, porque eu estou indo para sua casa. Minha mãe praticamente me expulsou, e me deu dinheiro pra comer fora. Ela nunca me dá dinheiro pra comer fora! Eu acho que isso foi uma estratégia pra me despistar e eles ficarem lá fazendo você sabe o quê... com aquele mala sem alça.
– Quer dizer que eles estão morando junto agora? – perguntou sua amiga.
– Pois é. O que eu temia aconteceu. – Hayley fez o mesmo gesto Katrina costuma fazer, “abanando as idéias”. Não queria nem pensar sua vida daqui pra frente.
– E a minha mãe, como sempre, me obrigando a fazer tudo do jeito que ela quer. A gente também não pode ir pra minha casa agora porque eu discuti com ela denovo.
– Então, quer ir comigo lanchar?
– Vamos sim, amiga. E você aproveita pra me contar todos os babados dessa viagem.
– Nem tem tanta coisa pra contar. Foi mais trabalho, trabalho e trabalho. Não que eu não tenha gostado, mas é que não dava tempo pra fazer qualquer outra coisa.
As duas nesse instante já caminhavam até a lanchonete Soul Food, que ficava na Galleria Blvd, não muito distante. Katrina ainda não tinha percebido que estava indo para lá, e ao perceber ela protestou.
– Não, Hayley! Por favor, qualquer outro lugar, menos ali.
– Qual é o problema? Aqui é o melhor fast-food de Franklin. Sem falar que os preços são ótimos...
– Eu sei, eu sei... – desconcertou-se Katrina. – Mas é porque tem uma pessoa que trabalha aí que eu não estou a fim de ver...
– Ah! Vai me contar tudo agora! É o seu ex?
­– ­É... é sim. Pronto, falei. Ele trabalha como garçom, aquele cretino, maldito. – Katrina cerrou o punho e sacudiu-o na direção da lanchonete.
– E por qual motivo vocês terminaram? – Disse Hayley, quase empurrando a amiga à continuar a tragetória.
– Nada. – Respondeu ela.
– Nada?!
– É, nada. Ele não fez nada. Esse é o problema, ele nunca faz nada.
– Explica esse negócio direito que eu não tô entendo mais nada! Por que vocês terminaram exatamente?
– É porque eu sou doida, Hayley. Por isso. Ele é todo certinho, arrumadinho, cheirozinho... igual a maldita da minha mãe! Eu e ele somos como óleo e água. Não tem como um relacionamento desses dar certo.
– Eu não acredito que você terminou com ele só por isso! Cadê a Katrina corajosa, que gosta de bater de frente com as regras? – Hayley já estava quase lá. Só precisou de dar mais alguns empurrões de incentivo, literalmente.
– Eu não posso gostar de alguém, Hayley. Eu sou uma escritora de crônicas desamorosas, se é que essa palavra existe. Seu eu estiver apaixonada como é que vou conseguir escrever? O Roger é muito certinho, ele nunca vai fazer nada pra me ferir... desse jeito não dá!
– Eu não acredito que você está me dizendo uma coisa dessas! Você só pode estar doida mesmo! – As duas já entravam na lanchonete, seguindo para uma mesa. Hayley circulava o olhar em todas as direções procurando o suspeito... quando viu alguém parecidíssimo com as características que sua amiga descrevera. Um garoto com cabelo preto e boxexas rosadas que atendia uma mesa próxima da que elas haviam acabado de sentar.
– Garçom! – Gritou Hayley, acenando para o garoto.
– Pois não. – Disse Roger, abrindo um triste sorriso em direção a Katrina.
– Por favor, me traga dois hamburgueres e dois refrigerantes... Ah! E não esqueça das batatas fritas! – Pediu Hayley.
– Pode deixar! – Respondeu ele, já todo animado. Seus olhos tinham um brilho opaco, se é que isso é possível!
– Ele tá sofrendo por você, sabia? Tá estampado na cara dele: "Katrina, eu te amo! Por favor volta pra mim!"
– Eu sei... mas não rola. E você, por favor, vê se não apronta nada, porque eu já notei sua cara desde que nós entramos...
Quando os hamburgueres finalmente chegaram, as duas devoraram tudo em pouquíssimo tempo. Por isso, encheram-se logo, e não quiseram provar das batatas fritas.
– Trás a conta! – Gritou Hayley, e Roger apareceu rapidamente.
– Foram séte dólares tudo.
– Olha só, se nós negociarmos um reencontro, dá pra dar um abatimento?
– Hayley! – Gritou Katrina, foi a primeira vez que Hayley a vira envergonhada.
– Roger? Essa garota aqui quer bater um papo com você, então senta aí e escuta tudo bem direitinho. Amiga, você ainda vai me agradecer por isso.
Katrina ficou sem saber o que fazer.
– Hayley, você vai pra onde? – Perguntou ela.
– Vou deixar vocês a sós. Se cuidem, ein? Ah, e, Katrina, você encontrou uma louca mais louca do que você.
Hayley deu um sorisso, saiu da lanchonete e ficou olhando pra eles de fora. Não deu nem três minutos de conversa e os dois já estavam se beijando, lá mesmo, na mesa.
"Meu trabalho aqui tá feito", pensou ela, e saiu a caminho de sua casa. "Mas enquanto a mim?", pensou ainda, enquanto retornava para sua casa. Fez aquele gesto com a mão de novo e falou espalhafatosamente:
– Ah, sei lá! Deixe acontecer. Não vou pensar nisso.
E assim fez.