Hayley parou, parou mesmo. Ela estava no meio do palco e simplesmente parou de andar, de cantar, de se mecher. Ficou estática. Tantos olhos, tantas pessoas olhando pra ela.
- Vamos Hayley, pode começar a cantar! - gritou William, mas ela nem escutou. De repente algumas lágrimas rolaram dos seus olhos borrando a sua maquiagem, deslizando sobre seu rosto. Ela havia descoberto a verdade um minuto antes de entrar no palco com a Factory.
As pessoas na platéia ficaram impacientes, algumas gritavam, vaiavam, mas Hayley nem escutava. Foi quando deu as costas e saiu do palco, deixando para trás uma platéia e banda enfurecidas.
- Não pode... então era tudo mentira... mas que... que espécie de idiota que eu sou? - Se perguntava enquanto corria para lugar nenhum e chorava, muito. Precisava de um refugio, precisava ficar sozinha, ou de alguém com que pudesse...
- Sei lá! Não sei nem o que... - Seus pensamentos foram interrompidos por um suposto indivíduo de Nashville.
- Ta perdida garota? - Ela nem respondeu. Continuou sua trajetória sem rumo até parar na rodoviária da cidade. Sentou, enxugou as lágrimas e esperou. Eram 10:30 da noite e havia um garota com a maquiagem muito borrada, sentada e sozinha. Sentiu medo e frio. Fleches sucessivos passavam na mente dela desde a primeira vez que conheceu o William (esse nome soava como giletes por todo o seu corpo), as brigas e discussões com as pessoas que ela mais amava por causa dele. Lembou do telefonema, de como aquela voz soava familiar.
- "Nada é o que você pensa" - repetiu as palavras exatas que ouviu assim que atendeu aquele maldito telefone.
- Se eu não tivesse atendido... se... se...
Enquanto Hayley se aprofundava em seus "se"s, William, Jeremy, e Viny (um amigo que eles tinham chamado pra ajudar na banda) estavam enfrentando um problemão com o dono da boate Rock's. A casa estava lotada, "estava" mesmo porque o pessoal começou a sair.
Todos estavam desesperados. Will não parava de gritar, Jeremy não sabia se ajudava o amigo, se esmurrava ele ou se saia correndo pra procurar a Hayley.
- Vamos continuar sem ela! Ela se vira! - Disse Will, antecipando a resposta à pergunta de Jeremy. Era impossível continuarem sem vocalista.
- Nem pensar! Eu vou procurar ela!
Nem deu tempo Will abrir a boca para reclamar alguma coisa. Jeremy já corria a procura de Hayley.
O egoísmo de William já havia tomado conta da sua mente. Ele não pensava mais nas conseqüências que aquilo tudo poderia causar. Hayley era de menor e tinha saído de casa sem a permissão da mãe. E se acontecesse alguma coisa com ela? Jeremy pensava nisso enquanto corria. Estava tarde, quase não havia mais ninguém nas ruas mal iluminadas de Nashville. "Pra onde a Hayley foi?". Ele não sabia nem por onde começar a procurar.
...
- Perdida? Não é normal alguém por aqui a essa hora. - O guarda estava meio sem-saber-o-que-fazer. Tentou falar com a menina loira de maquiagem meio exagerada. "Será que é prostituta?" ele pensava, "mas com a idade que disse que tem? Meu Deus!"
- Me leva pra casa! Por favor, me leva daqui!
- Claro! Tenha calma. Onde você mora?
- Em Franklin.
- Franklin?! E como veio parar aqui?
- Eu vim pra uma festa e me perdi dos meus amigos...
- Sei. - O homem pareceu acreditar na história da... da...
- Como é mesmo seu nome?
- Hayley.
... na história da Hayley, só não entendia bem como ela tinha vindo parar ali.
- Seus pais sabem que você ta aqui?
- Não.
- Tem parente aqui em Nashville?
- Não.
- Me desculpe, mas eu vou ter que chamar a polícia então.
Pronto. Era tudo o que faltava pra aquela ser a "melhor" noite da vida de Hayley. Tudo estava dando errado e, pra fechar com chave de ouro, chegaria em casa de viatura com toda a vizinhança olhando e sua mãe tendo um ataque: "Minha filha é uma delinqüente! Eu falei pra você não ficar andando com aqueles Farro!!". Parecia que a cena de um filme estava passando diante de seus olhos. A opção mais sensata até aquele momento seria voltar pra aquela boate imunda.
- Eu acho que não é pra tanto. Que tal me deixar e frente a boa... quer dizer, a festa?
- E onde é essa festa?
- No Rock's Club.
Rock's club. Esse nome trazia lembranças ao Sr. Collins (era assim que o guarda se chamava). Quando jovem, todo final de semana ele ia assistir as bandas de rock iniciantes. Grandes nomes da música começaram sua carreira lá. Hoje, o lugar havia mudado muito mas ainda possuía a mesma utilidade.
- Não me diga que você toca em uma banda. - Perguntou Sr. Collins para a surpresa de Hayley.
- Como adivinhou?
- Ah, foi fácil, pela maneira que você ta vestida e essa maquiagem medonha. Eu vou te levar pra lá, não se preocupe. Só me prometa que você vai pra casa.
- O senhor conhece aquele lugar?
- Me chame de Coll, e sim, conheço muito bem. Minha vida toda foi no Rock's Club!
"E a minha morte foi lá", pensava Hayley. "Nunca mais me deixarão cantar de novo e vão me batizar de A Menina Muda". Realmente, era muito constrangedor ter de voltar para aquele lugar depois de um "papelão" daqueles.
A caminho de lá, no carro de Coll, Hayley avistou Jeremy de longe andando no meio de rua. Gritou por ele e foram juntos de volta à boate.
Por fim, depois de toda aquela confusão a Factory nunca mais abriu. Não teria como funcionar sem seus operários.
Já em casa, de madrugada, Hayley estava cansada, mas não conseguia dormir.
- Hoje foi o último dia. Nunca mais eu vou cantar, nunca! - Murmurou, enquanto trocava de roupa. Bem sabemos que a história não foi bem assim.
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